EUA fizeram reunião secreta sobre programa nuclear do Irã; saiba detalhes
- siteseicondf
- 27 de jun.
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O governo dos Estados Unidos discutiu a possibilidade de ajudar o Irã a acessar até US$ 30 bilhões para construir um programa nuclear de produção de energia civil, aliviar sanções e liberar bilhões de dólares em fundos iranianos restritos, disseram quatro fontes.
Todos os tópicos partem de uma tentativa cada vez mais intensa de trazer o Irã de volta à mesa de negociações, ainda segundo as fontes.
Figuras importantes dos EUA e do Oriente Médio conversaram com os iranianos nos bastidores, mesmo em meio à onda de ataques no Irã e em Israel nas últimas duas semanas, destacaram as pessoas ouvidas pela reportagem. Essas discussões continuaram nesta semana após a assinatura de um acordo de cessar-fogo.
Funcionários do governo Trump enfatizaram que várias propostas foram apresentadas. Elas são preliminares e estão evoluindo, com uma questão consistentemente inegociável: enriquecimento zero de urânio pelo Irã, mesmo que o país tenha afirmado que precise disso.
Mas pelo menos uma proposta preliminar, descrita à CNN por duas fontes, inclui vários incentivos para o país do Oriente Médio.
Reunião secreta abordou programa nuclear sem enriquecimento de urânio
Alguns detalhes foram discutidos em uma reunião secreta de horas de duração entre o enviado especial dos EUA Steve Witkoff e parceiros do Golfo na Casa Branca na última sexta-feira (20), um dia antes dos ataques militares americanos contra o Irã, disseram à CNN duas fontes.
Entre os termos em discussão, que não foram divulgados anteriormente, está um investimento estimado de US$ 20 a 30 bilhões em um novo programa nuclear iraniano sem enriquecimento de urânio, que seria usado para fins energéticos civis, relataram à CNN autoridades do governo Trump e fontes com conhecimento da proposta.
Uma autoridade insistiu que o dinheiro não viria diretamente dos EUA, sendo que o país prefere que seus parceiros árabes paguem a conta. O investimento nas instalações de energia nuclear do Irã foi discutido em rodadas anteriores de negociações nucleares nos últimos meses.
"Os EUA estão dispostos a liderar essas negociações. E alguém precisará pagar pela construção do programa nuclear, mas não assumiremos esse compromisso" com o Irã, destacou uma autoridade do governo Trump à CNN.
Outros incentivos incluem a possível remoção de algumas sanções ao Irã e a permissão para que o Irã acesse os US$ 6 bilhões atualmente depositados em contas bancárias estrangeiras, cujo uso é proibido, de acordo com o rascunho descrito à CNN.
Outra ideia que surgiu na semana passada e está sendo analisada é a de que aliados apoiados pelos EUA no Golfo paguem pela substituição da instalação nuclear de Fordow pelo programa de não enriquecimento de urânio, disseram duas fontes.
Os ataques dos EUA contra o Irã tiveram grande foco na instalação nuclear de Fordow, que foi atingida com bombas anti-bunker.
Não ficou imediatamente claro se o Irã poderia usar o local, nem com que seriedade essa proposta estava sendo considerada.
"Há muitas ideias sendo discutidas por diferentes pessoas, e muitas delas estão tentando ser criativas", ponderou uma das fontes à CNN.
"Acho que é totalmente incerto o que vai acontecer aqui", comentou uma fonte com conhecimento das cinco primeiras rodadas de negociações entre os EUA e o Irã, que ocorreram antes dos ataques israelenses e americanos ao programa nuclear iraniano.
Governo Trump reforça posição contra armas nucleares
Witkoff disse à CNBC na quarta-feira (25) que os EUA buscam um "acordo de paz abrangente", e um funcionário do governo Trump enfatizou que todas as propostas visam impedir o Irã de obter uma arma nuclear.
Os EUA afirmaram que o Irã pode ter um programa nuclear para fins civis pacíficos, mas que não pode enriquecer o urânio para esse programa. Em vez disso, os EUA sugeriram que o Irã poderia importar o urânio enriquecido. Witkoff comparou o potencial programa ao dos Emirados Árabes Unidos.
"Agora, a questão e a conversa com o Irã serão: como reconstruir um programa nuclear civil melhor para vocês, que não seja enriquecível?", disse ele à CNBC.
O governo pode ter a oportunidade de apresentar um acordo aos iranianos. O presidente Donald Trump afirmou na quarta-feira (25) que os EUA e o Irã se reunirão na próxima semana – embora o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmail Baghaei, tenha dito que não estava ciente das negociações, e pessoas envolvidas no planejamento disseram que os detalhes ainda estavam sendo definidos.
Fontes familiarizadas com as discussões disseram à CNN que ainda não há datas definidas.
Apesar da diplomacia fervorosa liderada por Witkoff nos bastidores, Trump minimizou publicamente esta semana a necessidade de um acordo nuclear, afirmando também na quarta-feira que acreditava que tal acordo "não era necessário".
"Não me importa se tenho um acordo ou não", disse Trump.
Embora o presidente parecesse publicamente indiferente à negociação de um novo acordo após a assinatura de um cessar-fogo, muitos de seus assessores acreditam que a busca por um acordo de longo prazo garantirá a longevidade da trégua.
Os termos desenvolvidos na reunião secreta de Witkoff têm sido objeto de discussões constantes entre os EUA e o Irã por meio de interlocutores regionais – principalmente os catarianos – nos últimos dias.
O Catar também desempenhou um papel fundamental na mediação do frágil cessar-fogo entre Israel e o Irã no início desta semana e trabalhará em estreita colaboração com os EUA para garantir que os combates entre eles não sejam retomados, acrescentou uma das fontes.
EUA esperam que ataques levem a acordo
Há esperança dentro do governo Trump de que, após os eventos das últimas duas semanas, o Irã esteja mais propenso a aceitar as condições dos EUA e interromper os esforços que poderiam aproximá-lo do desenvolvimento de uma arma nuclear.
Mas especialistas iranianos citam o possível cenário de que o Irã possa agora decidir que precisa de uma arma nuclear.
No início da semana, o Parlamento do país aprovou uma legislação para encerrar a cooperação com o órgão de vigilância nuclear da ONU, sinalizando o desejo de ocultar ainda mais seu programa nuclear.
Antes da operação militar de Israel, há cerca de duas semanas, os EUA e o Irã realizaram cinco rodadas de negociações para tentar chegar a uma estrutura para um novo acordo nuclear.
Os EUA apresentaram uma proposta aos iranianos, e esperava-se que eles respondessem durante uma sexta rodada de negociações planejada em Omã. Essas negociações foram frustradas pelos ataques no Oriente Médio.
No sábado (21), antes dos ataques dos EUA a três instalações nucleares do Irã, o governo Trump se comunicou com o Irã por meio de intermediários.
A mensagem era dupla: os próximos ataques americanos seriam contidos, mas também que os termos dos EUA para um acordo diplomático eram claros e simples -- nada de enriquecimento de urânio, disseram fontes.
Trump tem se mostrado cauteloso quanto às perspectivas de um acordo, afirmando a repórteres após anunciar negociações com o Irã na próxima semana: "Podemos assinar um acordo, não sei".
"Eu poderia obter uma declaração de que eles não vão adotar a energia nuclear, provavelmente vamos pedir isso", pontuou Trump em uma cúpula da Otan, a aliança militar ocidental, na quarta-feira (25).
O presidente acrescentou que seu governo exigiria o mesmo tipo de compromisso que buscou nas negociações com o Irã antes do conflito mais recente no Oriente Médio.
"A única coisa que pediríamos é o que pedíamos antes", disse Trump, acrescentando que não quer "nenhuma energia nuclear".
O secretário de Estado Marco Rubio, que também atua como conselheiro de segurança nacional, disse na quarta-feira que qualquer acordo desse tipo dependeria da disposição do Irã em negociar diretamente com os EUA, e não por meio de intermediários.
"Gostaríamos de ter relações pacíficas com qualquer país do mundo. E, obviamente, isso dependerá da disposição do Irã não apenas de se envolver na paz, mas de negociar diretamente com os Estados Unidos, e não por meio de um processo de um terceiro ou quarto país", comentou Rubio em uma coletiva de imprensa ao lado de Trump em Haia.
Witkoff indicou na quarta-feira que há "sinais" de que um acordo pode ser alcançado.
"Estamos conversando com os iranianos. Há vários interlocutores entrando em contato conosco. Acho que eles estão prontos", disse ele à CNBC.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br
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